domingo, 15 de setembro de 2013

O azul e ela


Por  Jackson Ronnie Sá Silva



...Ela nasceu com olhos azuis...




...Ao vestir as primeiras roupinhas as cores azuis prevaleciam...azul nas meias, azul no gorro, azul nas luvas....




...O primeiro brinquedo foi um patinho azul para brincar numa banheira azul...

...Quando tinha três anos ganhou uma bola azul e aos quatro pediu um carrinho azul para o papai que prontamente atendeu. Percebendo o gosto da filha por carros o papai comprou um trator azul céu e uma bicicleta azul ilhéus...mais tarde o titio deu um fusca azul piscina...

...Ao chegar à adolescência conheceu a cor rosa, as rosas, o chiclete cor de rosa e uma menina chamada Rosa...Rosinha, como ela gostava de ser chamada, deu uma boneca rosa para a menina do azul...

...Rosinha e a menina do azul conheceram Paulo e Álvaro...os quatro foram ao teatro assistir a peça "Todas as cores do mundo"...o quarteto saiu animado do teatro e foram tomar sorvete...a menina do azul pediu de limão, Rosinha pediu de laranja e Paulo e Álvaro pediram de morango...três dias depois a menina do azul começou a namorar Paulo. Rosinha se sentiu sozinha...não tardou muito Paulo e a menina do azul noivaram e convidaram Rosinha para ser madrinha...no dia do casório Paulo apresenta sua irmã Germanota para Rosinha...a menina do azul se casa, engravida e o exame confirma: três filhas no útero. A menina do azul logo diz para Paulo: "elas se chamarão Branca, Preta e Marrom"...no dia do batizado das filhas Paulo convida Germanota e Rosinha para serem as madrinhas. Um dia depois Germanota e Rosinha se casam num lindo castelo em que cada cômodo é uma cor...anos depois as filhas da menina do azul (Branca, Preta e Marrom), agora com 15 anos, se encontram com os três filhos de Rosinha e Germanota (Vik, Fúlvio e Amadeu)...os seis adolescentes se dirigem para a piscina e vão conversar comendo brigadeiro, salada de frutas e tomando coca zero...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

A extensão como processo ensino-aprendizagem, não como mera extensão

Se perguntarem qual é o trinômio que compõe o significado da Universidade, muitos vão responder: Ensino, Pesquisa e Extensão. Essa divisão ordinal e sequenciada não foi construída aleatoriamente, revela antes de tudo como está estruturada a Universidade, segmentando o ensinar, o pesquisar e a aplicação destes dois elementos, a extensão comunitária.

Essa concepção serviu para um sentido de ciência e de Universidade, mas já não serve mais. A crise das metalinguagens, da concepção clássica de política, de um modelo de estado e a reverberação disso tudo naquela que era por excelência o lugar do saber, a academia, denotam a crise de um humanismo e a forma de concebermos o conhecimento. 

A Universidade se transformou no lugar de formação e preparação de seus recursos humanos para o mercado, pode ser isso, mas não apenas, se apropriou de uma lógica competitiva e sectária de enxergar o mundo, deixou de lado propostas curriculares integralizadoras e holísticas em detrimento da lógica do capital segregadora de tudo que aparentemente não acumula bônus, qualquer que seja, é o apanágio de uma ciência anti-humana, elitista, deformadora das personalidades, um lugar de vaidades, de egos inflamados, de conflitos particularistas. 

A pesquisa por seu turno, entendido como um elemento distante do ensino, se tornou algo caro de ser feito, cujos financiamentos estão cada vez mais ligados a professores vinculados a programas de pós-graduação, por um lado muito bom, impulsa a pós-graduação, o país necessita, por outro, as condições de trabalho existentes no Brasil impedem que na prática os dados de qualificação docente, que se aproximam cada vez mais de países como E.U.A e os europeus, mostram exatamente o contrário, não é possível preparar boas aulas, ter leitura qualificada com três disciplinas, dezenas de orientandos, reuniões mil, estâncias burocráticas e ao mesmo ministrar boas aulas e pesquisar. Ai é que a extensão fica extremamente prejudicada.

Obrigados a ter que fazer currículos, senão não conseguem financiamentos, os professores priorizam publicar em revistas qualificadas, participar de congressos, do que pensar na relação daquilo que estes fazem na Universidade com a comunidade. Para que? Pouco pontua no currículo lattes, basta olharmos os critérios de pontuação em concursos públicos, em processos de concessão de bolsas de pesquisa ou iniciação cientifica, em projetos de financiamento de pesquisa bancados por institutos de fomento para checarmos tal informação. Qual o peso da extensão? Quase nada. Resultado: a comunidade no entorno da Universidade literalmente é alijada dos processos internos.

Pensar a relação ensino-pesquisa e extensão é refletir sobre o processo pedagógico integralizador das etapas do conhecimento e como esta pode e dever ser revestida para o segmento que financia e precisa do ensino e da pesquisa, exatamente a sociedade. Da forma como a Universidade está alicerçada é importante para a comunidade cientifica que usufrui dos resultados e dos meandros do saber academicista, não para o restante.

Outro dado: olhemos os recursos destinados para a pesquisa e extensão para denotarmos outra segregação. Porque não há paridade entre esses três segmentos? Porque existe de fato uma hierarquia entre eles, quando deveria se pensar numa comutação, total integração e não separação. A comunidade deve estar inserida na Universidade, mesmo não aprovada no vestibular, participar do dia-a-dia dela, ser beneficiária dos seus serviços, aprender e ensinar a partir de suas práticas.

Vejamos outro dado. Porque os campus da UFMA e da UEMA aos fins de semana são fechados? Sem atração, sem vida? Porque não são pontos de cultura, não possuem atividades e não são símbolos de espaços de interação sócio-cultural? Porque são elitistas, segregadoras e não pensam nas comunidades. 

Aqui vai um alerta ao curso de História da UEMA, cujo prédio depois de 12 anos será finalmente entregue a sociedade maranhense, cujas obras custaram R$ 2.000.000,00, possui três pavimentos, 8 salas de aula, uma biblioteca, um auditório, salas de reunião, internet Wireless, em pleno centro histórico tombado pelo patrimônio mundial: se os professores não agregarem a comunidade ao redor do prédio, não ampliarem a concepção de conhecimento para além da sala de aula, será literalmente uma torre de marfim, um espaço ensimesmado, entrópico, portanto, longe da noção de saber que se apresenta neste inicio de milênio. 

Pensar a relação ensino-pesquisa-extensão é ter sensibilidade para entender que o conhecimento é um só, mas se apresenta de formas distintas.   
   

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

JUVENTUDE, ARTE E POLITICA.


Para o povo de Picos, Piaui

A juventude nem sempre foi a mesma, conforme a sociedade, a época, foi mudando a concepção sobre esta etapa da vida. Nas primeiras sociedades ocupava uma posição secundária, a de destaque estava reservada aos mais velhos, os guardiões da sabedoria. A juventude era destacada como elemento de vitalidade, sobretudo para os trabalhos braçais e para a guerra.

A hierarquização social era elemento que dificultava a possibilidade de mobilização ou mudança do status quo, nem por isso passava despercebido rapsódias de rebelião, rebeldia, futuramente associada à ideia de juventude, como por exemplo, a revolta dos plebeus na Roma antiga (497 a.c) pelo direito do casamento entre estes e os patrícios.

A construção de uma noção de juventude, tal como se concebe atualmente, surge segundo Philipe Áries, na época moderna e por uma mudança na redefinição dos papéis sociais. Pela primeira vez fica mais nítido a diferença entre as três fases: infância, maturidade e velhice. Durante o período medieval a criança era concebida como um adulto em miniatura, não havia o olhar especial sobre este segmento.  A concepção de proteção, de um olhar específico surge com a redefinição do papel da educação.

O conceito de modernidade - trazer o novo - se associou a uma pletora sensação de realização pessoal ligado à satisfação, realização; o velho, incorporado como antiquado, aquilo que deveria ser ultrapassado cada vez segmentava a relação entre novo e antigo. A modernidade foi ao mesmo tempo uma dimensão espiritual, como bem disse Norbert Elias (O processo civilizador), sensação, desejo de pulsão, fruto de seu aspecto ideológico, moderno enquanto necessário, o novo - o capitalismo - sobretudo, e o que havia ficado para trás. 
Toda sociedade é moderna a sua época, mas somente nesta fase a diferença entre o hoje e o ontem atingiu um patamar tão radical. Shakespeare e a invenção do amor moderno contribuíram para isso, afinal, com o processo de obsolescência da transcendência, restava a imanência, o amor entre os jovens Romeu e Julieta.

A dinâmica da vida se coadunou com a velocidade, a possibilidade de renovação das ideias de revigoramento. A mudança dos paradigmas se atrelou à transformação da política, da percepção do espaço, até os limites da metamorfose dos corpos. Um exemplo clássico disso é a invenção da festa de debutante. A sociedade de corte exibe a filha virgem propicia ao casamento.

Com o desenvolvimento da sociedade industrial a noção de juventude fica mais nítida e evidenciada. Passa a ser correlacionada a dimensão produtiva, sendo demasiadamente valorizada, coexistindo também uma positivação desta fase, coadnuda pela reverberação da longevidade.

O corpo, antes rechonchudo, sinônimo de saúde, beleza, foi paulatinamente substituído pelo corpo viril, consequência de horas de trabalho, da substituição das anáguas pelo macacão.

Aparecem a moda, a fotografia, o cinema, a propaganda. A agressividade do consumo tem como eixo essa faixa etária. Até chegarmos ao século XX e a desconfiança dos princípios balizadores da felicidade, do capital e da seguridade a partir do paradigma iluminista moderno. Contra o desencantamento do mundo a arte aparece como salvação da vida.
A arte moderna é extremamente jovem enquanto paradigma. Na literatura: Mallarmé, Victor Hugo, Rimbaud, Edgar Allan Poe; a literatura russa com Dostoievski, Maiakovski, Gogol, celebravam a pletora condição de anunciar um mundo novo.

Nas artes plásticas Camile Claudel, na pintura Renoir, o surgimento da arte modernista como ativação de um elemento politico. Não há dissociação entre arte e politica, toda ação artística é em última estância uma ação politica, porque toda arte é um manifesto da vida. Vide novamente os casos dos escritores russos perseguidos pelo czarismo enviados para a prisão da Sibéria.

Ao se tratar da literatura uma grande expressão foi sem dúvida Baudelaire, conotando o amor da juventude como encantamento trazido pelos ventos da vida moderna, desejosa de suas paixões ao ar livre, encantada pelo belo, abertura dos Boulevards.

Depois da grande crise geradora do fim da Belle époque o movimento musical associado à contestação politica: o rock enquanto critica ao american way of life. Elvis Presley, Beatles, Woodstock, movimento beat, são das expressões disso e da contracultura.

No Brasil a Bossa nova, a jovem guarda, a tropicália, a música de protesto, Geraldo Vandré, Chico Buarque, são alguns dos exemplos da conotação entre juventude, arte e politica.

Arte passou a estar vinculada ao ato politico, as letras de protesto no Brasil, o Movimento Parangolé, o Rock Brasileiro dos anos 80: Legião Urbana, Plebe Rude, Ultraje a Rigor, todos os filhos da geração de oprimidos da ditadura militar que viram na reabertura politica um moto, um viés de contestação social. Mangue Beat em Recife, Movimento Hip Hop, grafitagem em grandes centros urbanos são alguns desses exemplos.

As jornadas de junho e julho deste ano, qual cognominei de Primavera brasileira, são a máxima expressão da dissociação entre uma forma de fazer politica e a capacidade de dialogar com a sociedade, notadamente a juventude. O movimento que nasceu em 2006 em São Paulo, Movimento Pelo Passe Livre, conclamou pelas redes sociais uma multidão insatisfeita não só com o aumento das passagens, mas, sobretudo com as formas de representação politica.

A falência do modelo politico-partidário, corroborado pela crise da direita brasileira, deram mote a uma forma de manifestação que dizia nitidamente que as estâncias burocráticas perderam a capacidade de dialogar e até mesmo entender os anseios das novas configurações sociais, expressas, por exemplo, nas redes sociais, apanágio das novas sociabilidades.

A rápida comunicação via facebook possibilitou uma nova organização e forma de convocação antes feita pelos partidos e sindicatos, quando não pelos movimentos sociais. Além disso, a arte colocada nas ruas durante os protestos também sinalizaram que o modelo de controle de financiamento deste setor precisa ser revisto. O processo de burocratização, de exercício de poder do estado sobre as artes não atende a necessidade comunicativa que se faz a todo o momento em vários lugares e partes do país. A democratização da informação operada pelas redes sociais é um processo verdadeiramente inovador e revolucionário e obriga as velhas instituições democráticas a repensarem suas formas de atuação.   
   
É necessário repensar o conceito de juventude, não se trata de uma faixa etária, é um estado de espirito, por isso ao longo da história todas as transformações estavam associadas a um grupo contestador das condições sociais.

Por que a dimensão da mudança se traveste em arte? Por que a vida prosaica em sua dimensão isolada é insuportável. A arte é o que escapa ao rodo opressor cotidiano.

Por que a relação entre juventude, arte e politica? Porque a mudança, operada pelo espirito brota a arte. Ela recoloca aquilo que foi retirado do mundo e devolve de outra forma.


É inescapável uma mudança não operar transformações no campo politico. A arte é a capacidade de enxergar, antecipar um mundo ainda não visualizado. Ela suspende a vida obnubilando pela capacidade de ver o belo onde este não mais existe.

Entrevista com Arton, de Sirius. Parte II

  Entrevista realizada no dia 14 de fevereiro de 2024, às 20:00, com duração de 1': 32'', gravada em um aparelho Motorola one zo...