quarta-feira, 27 de março de 2013

Souriant


Assim uma penumbra

Como foco de luz antes da LUZ,

um clarão ilumina a noite escura,

um sorriso a brilhar nas trevas...

Teus olhos puxados como faróis

a guiar este bonde de alegria, cujos dentes

são para-choques que atraem

outro bonde em tua direção.

Dormir assim, vendo esse sorriso

é como nunca querer encontrar

a estação da descida...



terça-feira, 26 de março de 2013

De Cabral a Cabral: a expropriação de terras indigenas continua no Brasil

Na última sexta-feira, dia 22 de março, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, chefe do comando da tropa da Policia Militar, autorizou a expropriação, a expulsão dos índios que ocupavam um terreno ao lado do estádio do Maracanã, bem como a remoção do Museu do Índio, nas cercanias. 

Na área viviam cerca de 12 etnias. Tudo isso foi feito em nome das obras da famigerada Copa do Mundo de futebol em 2014. Ou seja, em nome do evento vale enviar a tropa de choque da Policia Militar para expulsão dos verdadeiros donos da terra.

Eu tenho vergonha e nojo do meu país. O anúncio da vitória do Brasil como sede do evento foi anunciado em 2008, logo após aquela controversa e emblemática derrota por 3 x 0 para a França - não que não merecesse, o time era previsível, limitado e extremamente dependente de Ronaldo, o fenômeno, e o técnico da França dias antes do confronto anunciou como venceria o Brasil. A questão foram as circunstâncias: convulsão de Ronaldo e a tentativa do jogador Edmundo de contar o que realmente aconteceu nos bastidores. O problema é a falta de planejamento, a desorganização e o autoritarismo do governador em  retirar etnias indígenas de seu local de pertença.

Sou um dos muitos brasileiros que são contra a Copa do Mundo por razões simples: o desperdício de dinheiro público, a gastança, a farra, a falta de transparência, de seriedade na execução e a inversão de prioridades: esse país carece de esgotamento, de água potável, de moradia, segurança, educação, saúde, dentre tantas outras coisas, no entanto, vai gastar bilhões de reais num evento tão curto e de tão pouco retorno financeiro.

Mas a questão central ainda nem é essa e sim, o autoritarismo, a falta de respeito, o descaso com os nossos antepassados, com o Museu do Índio, órgão importante de pesquisa etnográfica no Brasil. Esse episódio revela a face de um Brasil autoritário, antidemocrático, fascista, cuja pressão, a falta de controle de gastos e planejamento levam um governador a retirar 1 ano antes do evento importantes etnias do local. 

Por que não pensaram nisso desde 2008? Quais foram as estratégias? Quem idealizou o projeto para o Estádio do Maracanã, que aliás, já havia sido reformado para os jogo pan-americanos de 2007 e seguido padrões internacionais? Quanto custou a reforma do Maracanã em 2007? Quanto vai custar para a Copa de 2014?

Esse país não respeita etnias, grupos minoritários, pobres, gente simples, é um país de uma classe média autoritária que recentemente começou a enriquecer com os louros da estabilidade econômica. 

A história desse país é a história do sangue derramado dos indios e negros. Dos índios que foram e tem sido expropriados desde a chegada do Português Pedro Alvares Cabral em 22 de abril de 1500 e que de lá para  cá tem se assistido a constantes assassinatos, expulsões, conflitos envolvendo terras indigenas. É uma vergonha: a etnia primeira que aqui estava não tem sido devidamente respeitada na sua condição de legitimos donos da terra.

Sabem o que a elite desse país no fundo gostaria? Que se fizesse aqui o mesmo que foi feito na Austrália quando os aborígenes praticamente foram dizimados pela colonização britânica, ou como na Nova Zelândia, cujos Maori praticamente desapareceram. 

Não à-toa surgiram desde o século XIX teorias racistas alegando a inferioridade intelectual e biológica brasileira por conta da miscigenação. Esse país tem vergonha de suas raízes indígenas. Fato. Por isso, um governador se acha no direito de arrancar do seu local original etnias e um importante órgão de pesquisa nesse pais.

Vale a política do pão e circo, exibição da pujança brasileira num mega evento esportivo encobrindo nossas profundas mazelas e desgraças sociais.

O Presidente do Senado é Renan Calheiros, acusado de uma série de crimes de corrupção, o Presidente do  Comissão de Direitos Humanos é um pastor evangélico racista e homofóbico, Marco Feliciano, no entanto, os brasileiros fingem que isso não os atinge, que não é com eles. Isso é uma vergonha.

A corrupção grassa esse país, é endógena, está em todos os órgãos. Enquanto isso, vale a politica do bota baixo, de expropriar, singrar e sangrar em nome de uma suposta imagem positiva do país. Estamos muito longe, aqui debaixo do lado do Equador a porrada come e é frouxa.              

  

terça-feira, 19 de março de 2013

A eternidade num instante

Vê-se como as horas dos tempos rodam para trás,
como num rasgo desconcertante do casulo de uma borboleta,
ela salta a vida, mas já existia dentro de outra vida,
sua nova vida não é melhor que a anterior,
é uma nova etapa de um novo casulo,
aquele em que as horas voltam atrás,
como se a borboleta ao rasgar a pele
se despetalasse sentindo-se uma rosa,
sem espinhos, com asas, com cheiro,
com horizontes, sem destinos,
como uma música cifrada
desenhada como uma tatuagem no pescoço

da mulher amada  

domingo, 17 de março de 2013

Clausura

Eram ensimesmados. Embotados. Do alto de suas casas sempre avistavam ao longe a dimensão da baía que os guarneciam dos estrangeiros, ao mesmo tempo que os impedia de saírem dali. Eram sempre absortos em si mesmos, sempre se achavam os melhores, os mais importantes, os anunciadores das boas-novas, das coisas vindas do outro lado de lá.

Viviam uma relação dúbia com aquele lugar. Sentirem-se os melhores servia como uma função de distinção social, no entanto, sabiam internamente que eram os melhores apenas dali, daquele lugar. 

Havia tanta vida lá fora, havia também ali dentro, mas a vida de dentro eles se consideravam superiores demais para enxergarem, para se misturarem com as gentes simples, “rota”, “rudela”, como alguns afirmavam.

O problema é que no mundo enclausurado de si mesmos, repetiam as mesmas práticas da gente rota que criticavam. No fundo eram piores, pois as gentes simples nunca foram rotas, eram sim simples. Viviam de acordo e conforme suas concepções de vida.

Avistar o mar que banhava a entrada da cidade era uma atitude poética; mar grande, gigante, bravio, caudaloso, escuro. A linha do horizonte guardava uma dubiedade: vontade de transpô-la, medo de atravessá-la. O que existia para além daquela linha? Por que todos, ou quase todos que chegavam àquele lugar vindo de fora eram mais reconhecidos, melhores do que os dali?

Com o passar dos tempos, os anos iam se acumulando nos musgos dos telhados das casas, a parede rachada, os tetos salpicados de luzes do sol, o cheiro da umidade nas paredes, as ruas sujas, pessoas envelhecendo e o mesmo mar separando a pequena ilha do restante do mundo começava a entorpecer os "bons daquele lugar". Já não se sentiam tão consoantes com o mundo, embora se achassem ainda melhores do que os simples dali.

Começaram a perceber que as coisas comezinhas, as furitricas, o disse-me-disse, se tornavam uma espécie de vício recalcitrante, típico de lugares pequenos, como aquele, e que o orgulho que guardavam no peito por serem os melhores era uma piada fora dali. Ser melhor ali não era muita coisa fora dali.

Os anos se passavam como chumbo. O céu pesava e descia mais dia após dia. O impulso inicial para escrever, para estarem estampados nos jornais seus escritos, para receber sempre as mesmas condecorações, as mesmas pessoas, os mesmos comentários, as mesmas intrigas já não estimulavam mais. O problema continuava sendo sempre o mar que os separava de tudo. 

Como transpô-lo? Que fazer lá fora? E se conseguissem atravessar a linha do horizonte e viverem em outras paragens, sobreviveriam ao anonimato? 

Mas havia também os que atravessaram e conseguiram reconhecimento. O problema era a inveja. Os que ficaram se perguntavam como alguns haviam conseguido e eles não. Era melhor ficar mesmo, afinal, melhor ser rei em terra de gente rota que ser anônimo em terra de gigantes.

A ilha se constitui uma verdadeira clausura, embora a céu aberto, espaço abundante, céu por testemunha. A verdadeira prisão era interna, não era o mar que impedia a saída. 

A dimensão geográfica da ilha se constitui numa circunscrição subjetiva de ilha nas mentes dos homens ilustres. 

Ali, eles estão presos até os dias de hoje.    
                   




quinta-feira, 14 de março de 2013

O fim da película, o fim do cinema?

O pedido de concordata da Kodak e a venda dos negócios de películas fotográficas e de filmes abre uma discussão sobre o conceito clássico de cinema. Com a entrada e produção de filmes digitais, gravados e documentados em HD, o mercado de películas se apequenou, perdeu espaço, continuou a ser custoso e mudou a concepção tradicional de cinema.

Desde este invento pelos irmãos Lumière, passando por Chaplin, Cinema Russo, Alemão, Orson Welles, a criação da poderosa indústria de Hollywood, até o debate na Escola de Frankfurt acerca da reprodutibilidade técnica produzida pelo cinema, esta arte-magia sempre se caracterizou pela reprodução de imagens em película, uma câmara escura, um projetor, uma sala, público. 

Muita coisa mudou desde a invenção dessa técnica. Monopólios de distribuição e produção de filmes, a criação de uma das maiores indústrias do mundo, isso mesmo, cinema virou indústria, passando por modificações técnicas, afetando e sendo afetada por novos meneios de modernismos, a sensibilidade humana foi profundamente atingida. 

Obrigou inclusive a se repensar o conceito de arte, já que é síntese a mistura/fusão das outras 6 artes. O cinema é tridimensionalidade, é movimento, é expansão, perspectiva, plano de fundo. Usando Marshall Berman como argumento, a arte é ao mesmo tempo receptora/promotora das novas sensibilidades humanas, sendo assim, nos fez sonhar ao mesmo tempo que captou os nossos desejos mais visionários.

O problema é a velha questão da tecnologia como caudatária da reprodução do capital. A promoção do cinema enquanto indústria, além de gerar bilhões de dólares, obrigou estúdios, produtores, cineastas, congêneres, a buscarem novas formas de confecção/distribuição de olho no mercado consumidor. Paralelamente a isso apareceu o fenômeno internet/digital, possibilitando as reduções de custo de produção e o surgimento de indústrias como a Bollywood, da Índia, a Nollywood, da Nigéria, quebrando o monopólio estadunidense.

Como toda transformação, toda mudança produz significativas alterações de rota, o fenômeno digital mudou, por conseguinte a própria concepção de cinema para vídeo. Pessoas nas suas próprias casas, com parcos recursos e algum conhecimento de técnica fílmica, linguagem/programa de computador, passaram a fazer filmes e exibi-los na rede mundial. Há vários sucessos e exemplos, inclusive de bilheteria (As bruxas de Blair é um deles).

Para atrair o público que deixou lentamente de frequentar as salas de cinema, a indústria cinematográfica teve que se reinventar, adaptar-se às mudanças, que no fundo são do capital. Passaram a filmar remakes, fazer filmes retrôs, filmar quadrinhos, usar recursos tecnológicos para prender a atenção do público. O cinema deslindou-se cada vez mais para espetáculo, para o entertainment. O caso da minissérie LOST é emblemático: foi a primeira vez que cinema/televisão, internet, pesquisa de opinião, foram utilizados na produção/confecção e forma de conceberem uma série. Os produtores acompanhavam passo a passo a recepção do público para conduzirem os capítulos, além de usarem de mensagens subliminares levando o público a decifrarem quase em tempo real o que iria acontecer nos episódios seguintes.    

A sedução dos filmes 3D (três dimensões) sinalizava que a morte da película era mais que anunciada. Só para se ter uma ideia, Avatar só pôde ser filmado quando enfim surgiu uma tecnologia compatível, possível para a megalomania do projeto. A mesma coisa aconteceu com a saga Star Wars. George Lucas filmou detrás para frente, ou seja, começou sem explicar como tudo havia começado pelo simples fato de que quando havia idealizado não existia tecnologia suficiente para os efeitos que desejara. 

O mundo é dinâmico, é fato. A mesma discussão surgiu quando do aparecimento da fotografia, do próprio cinema, da televisão, do disco vinil, da fita cassete, do VHS, do CD, DVD, do Blue ray, dos filmes 3D, agora 4D, e da polêmica sobre o futuro das películas.

Talvez a questão seja meramente conceitual, ou seja, o cinema passará a ser produção de vídeo, afinal, com a invenção das câmeras fotográficas digitais, o mercado de películas para fotografia praticamente desapareceu, no entanto, a fotografia deixou de existir?

O fim da película representa o fim do cinema? Com certeza não, mas um tipo de cinema fatalmente vai desaparecer para dar lugar a outro                   



segunda-feira, 11 de março de 2013

O debate interessante sobre a cura da AIDS

Desde que publiquei o artigo A CURA DA AIDS em 18/10/2012, este blog se tornou um espaço interessante de trocas de discussões sobre assunto. Por conta dos debates e por ter conhecido alguém em tratamento com esperança de cura, publiquei outros dois artigos: SAIU O RESULTADO DE TESTE DE AIDS DE MEU AMIGO em 18/11/2012, e, SAIU O NOVO RESULTADO DE TESTE DE AIDS (SIDA) DE MEU AMIGO, em 20/12/2012, infelizmente com resultados não satisfatórios.

De lá para cá, trocas de experiências, situações vividas tem sido compartilhadas neste blog. E isso é interessante: jamais pensei que as coisas fossem tomar os rumos que tomaram e que este espaço se tornasse um campo de observações e de esperanças.

Se o Versura terminasse hoje teria cumprido seu papel. Quando o criei em agosto de 2011 a idéia era a abertura de um espectro litero-filosófico-histórico, mas acredito que sua dimensão ultrapassou e muito seu intento inicial. Que bom!!!! Assim espero ter contribuído de alguma forma para certas pessoas. 

O artigo A CURA DA AIDS é de longe o mais acessado e já possui 94 comentários, inclusive é um dos responsáveis pelo VERSURA ser lido hoje em 51 países. 

Espero sinceramente que as trocas de informações que estão rolando na sessão COMENTÁRIOS inspire, auxilie, ajude alguém na travessia dessa doença chamada SIDA/AIDS.

Me sinto extremamente realizado, isso é uma verdadeira poesia.

Continuem usando esse espaço, ele é muito maior que todos nós.

carinhosamente,

abraços do Henrique        

quarta-feira, 6 de março de 2013

Adeus Chorão, vocalista da Banda Charlie Brown Jr

O Brasil acordou mais triste, choroso. Morre o vocalista da banda de Rock: Charlie Brown Jr,  O Chorão. Nome sugestivo: Chorão, do verbo chorar, de quem sente, sofre, reclama, vive, verve. 

Nos Estados Unidos a cor azul indica tristeza, por isso Blues, quando os negros protestantes após os enterros dos seus entes queridos voltavam dos cemitérios tocando essa melodia. Mesmo quando acelerado o Blues guarda um Q de tristeza.  

No Brasil, o ritmo chorinho, nascido de nossa miscigenação cultural, da profusão de nossos sentimentos, é quase um lamento, uma declaração de amor lancinante, tocada por tons agudos, lembrando que a nossa alegria festiva também chora. 

A coincidência do apelido Chorão para um cantor e compositor de Rock guarda semelhanças com o sentido do rock e do próprio nome da Banda. Charlie Brown, ícone da cultura estadunidense, é apropriado no Brasil com o sobrenome Junior, ou seja, filho, como se essa banda resgatasse os sentidos iniciais de quando o rock iniciou. 

Nascido nos anos 50, oriundo de vários ritmos estadunidense, o rock nasceu como forma de protesto dentre outras coisas contra o american way of life. O ritmo agitado, controverso, era uma especie de manifestação e anuncio de um novo tempo. Quebrar os paradigmas musicais, usar roupas ousadas, jaqueta preta, calça jeans, cigarro na boca, uma moto potente e a estrada como destino, representavam o anuncio da emancipação cultural que as décadas de 60 e 70 gozariam como nunca dantes. 

Ultrapassando fronteiras, em parte por conta do sucesso dos Beatles, o rock chega ao Brasil e encontra solo fértil. De novo o problema do confronto entre uma sociedade conservadora e o choque cultural de novas gerações. O Rock Brasileiro ganhou uma cara nova com Mutantes, Secos e Molhados fazendo escola. 

Como sempre, os contra afirmaram que tal ritmo era a decadência da musicalidade brasileira. Estavam errados. Como seria o novo cenário musical brasileiro sem a Tropicália, Mutantes, Secos e Molhados, A Jovem Guarda, The Fevers, Renato e seus blue caps, Raul Seixas, depois, Barão Vermelho, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Ira, Legião Urbana, RPM, e toda a geração do rock nacional dos anos 80 que assistiu a passagem de uma sociedade marcada pelo autoritarismo da ditadura militar para a liberdade de imprensa e expressão, ou pelo menos a abertura dela?

Mais uma vez o rock era dissonante das mudanças porque o Brasil passava. E como ele novas gerações aprenderam a se manifestarem criticando comportamentos e situações sociais.

Charles Brown Jr compunha o novo cenário musical brasileiro. Oriundo da sociedade industrializada, urbana paulista, a banda era um MIX das influências do pop-rock, do rap e hip-hop. Estava ficando cada vez mais poética, sem abandonar a iconoclastia.  

Chorão, seu líder, sempre esteve imerso em confusões, brigas, polêmicas, controvérsias e suas composições são um retrato disso. A vida levada ao extremo são uma marca da autenticidade de como esses receptáculos da vida a encaram. Todas as vezes que acordamos com noticia de morte de lideres de banda, de cantores solo, enfim, independente da causa mortis, é como se uma parte de nós fosse arrancada enquanto a outra se questiona porque nosso ícones tem a coragem de fazer e viver que nós não temos. 

Janis Joplin, Jimi Hendrix, Kurt Cobain, Jim Morrison, Elis Regina, Chico Science, Cássia Eller, dentre outros, quando são arrancados deste plano, além do vazio, nos deixam o questionamento sobre o sentido da existência. Não cabe julgamento moral sobre a razão de terem morrido, o que nos inculca é porque não viveram mais. 

Chorão expressava cada vez mais de forma sublime a forma como ele encarava a evolução da vida. Acompanhar a trajetória da banda era perceber como os sentidos da existência estavam traduzidos em letra e ritmo. A banda já não era tão novidade, mas sempre nos surpreendia álbum a álbum. 

história, nossas histórias, dias de luta, dias de glória, é quase um prenuncio de sua própria trajetória. Cantar versos do cotidiano, falar de amores perdidos, de situações sociais revoltantes, fez da banda um ícone da nova geração que aprendeu a rimar ao ritmo da periferia das grandes cidades brasileiras. As letras sem grandes elaborações semânticas e sintagmáticas estavam nas bocas de novos atores sociais que viam em tal forma de manifestação sua nova poesia. Se não eu, quem vai fazer você feliz? É a própria cara do piropo moderno, das novas cantadas, da forma contemporânea de dizer a alguém o quanto é importante, sem se importar se nunca estará nas listas de uma antologia poética. 

Agora eu sei exatamente o que fazer
Bom recomeçar, poder contar com você
Pois eu me lembro de tudo irmão
Eu estava lá também
Um homem quando está em paz
Não quer guerra com ninguém
Eu segurei minhas lágrimas
Pois não queria demonstrar a emoção
Já que estava ali só pra observar
E aprender um pouco mais sobre a percepção
Eles dizem que é impossível encontrar o amor
Sem perder a razão
Mas pra quem tem pensamento forte
O impossível é só questão de opinião

Chorão, somente quem experimentou a sensação da paz sabe que ela é melhor que a guerra, não importa por quanto tempo a gozaste. Só quem vive intensamente é capaz de demostrá-la intensamente. 

Agora, tu imprimiste um novo bordão no cenário musical brasileiro: chorar também é coisa de homem, bruto, tatuado, acima do peso, brigão, controverso, roqueiro, skatista, poeta, afinal, somente os loucos como você sabem disso.

Você vai deixar saudades
você vai deixar saudades
queria te ver mais uma vez
queria te ver mais uma vez
você vai deixar saudades                                

sexta-feira, 1 de março de 2013

A ETERNIDADE DO INSTANTE: O MOSAICO DE REPRESENTAÇÕES DO FEMININO DE ZOÉ VALDÉS



 Por Jeanne Sousa da Silva


INTRODUÇÃO
Adentra-se no mundo literário de Zoé Valdés, premiada escritora cubana, nascida em Havana no ano de 1959, com a análise de A eternidade do instante, narrativa em forma de mosaico, na qual as representações do feminino, entrecortadas entre passado e presente, revelam sob a ótica da crítica feminista, relações entre o gênero e os símbolos culturais. 
A obra em análise trata-se da história de uma família de chineses, separada pela forte crise que se instalara em seu país. Li Ying, personagem protagonista, em conseqüência da crise, emigra para Cuba. A esposa Mei Ying fica com os três filhos Mo Ying,XueYing  e Irma Cuba Ying esperando o retorno de Li. Depois de longos anos de espera, o primogênito Mo Ying resolve ir à procura do pai, deixando a mãe e as irmãs.
Em sua longa peregrinação Mo Ying, narrador-personagem, conhece outras culturas, relaciona-se com mulheres, conhece a escravidão e finalmente chega em Cuba, onde passa a se chamar Maximiliano Megía. Já idoso, resolve se aproximar da neta a quem endereça seu caderno de memórias.
A história é dividida em duas partes, Nascer e Vivir, a primeira contém 15 capítulos, e a segunda 21. A conexão entre os capítulos, no entanto, não se desfaz, há uma linha tênue que conecta os sentidos. Os subtítulos dos capítulos estão relacionados à charada sino-cubana, que apresenta 36 números, dando à obra um tom místico.
A estrutura da narrativa está ligada a uma rede de significados que tanto se referem à cultura chinesa quanto à cubana. O misticismo, presente nessas culturas se faz presente na composição de quase todas as personagens. Assim como, a tradição cultural, através das organizações sociais, revela as representações do feminino.
Antes de iniciarmos a análise da referida obra, vale situar o contexto sociopolítico da China e de Cuba, no qual a obra se insere e, principalmente das implicações desse contexto no campo literário. Isto porque, segundo a crítica Rita T. Schmidt, “A importância, hoje, não é somente DO QUE se fala, mas, principalmente, DO COMO se fala e DE ONDE se fala [...]” (1995, p.178).
A narrativa inicia-se em Yaan, cidade de Sichuan na China de 1910, período em que começa a ruína econômica chinesa, sobretudo na agricultura. Muitos dos camponeses abandonaram o campo, o que gerou profundas mudanças, no panorama sócio-econômico e cultural desse país.
O Imperialismo capitalista imposto pelas potências européias, subjugou os valores culturais chineses a um descrédito, as artes em geral, perderam o valor político-econômico. O status social passa a girar em torno do poder do capital e não mais do intelecto. Muitos artesãos e camponeses emigraram para outros países, em busca de riqueza.
Nesse período, Cuba havia se tornado uma república, no entanto o governo norte-americano, em 1901, tinha convencido a Assembleia Constituinte cubana a incorporar um apêndice à Constituição da República, a Emenda Platt, pela qual se concedia aos Estados Unidos o direito de intervir nos assuntos internos da nova república.
É nesse contexto histórico, que se inscreve a obra em análise, de um lado uma China decadente, sofrendo com o declínio social, econômico e cultural e do outro Cuba vivendo uma prosperidade mascarada. 

A ETERNIDADE DO INSTANTE: MOSAICO DE REPRESENTAÇÕES, SOB AS LENTES DA CRÍTICA FEMINISTA

Sob a ótica da Crítica feminista, verifica-se que a obra em análise apresenta relações de gênero marcadas pela presença significativa de símbolos culturais, instituições econômicas e políticas, assim como, reviravoltas nos papéis das personagens − mulheres fortes e decididas versos homens sensíveis e inexpressivos.
Ao estudar essas relações, conforme Schmidt (2000, p.95) deve-se lembrar que “Tanto quanto raça e classe, gênero é uma das categorias da diferença [...] falar sobre gênero é falar sobre diferença sexual e cultural”.     Sendo assim, o estudo sobre o gênero proposto nesse artigo, perpassa os preceitos da primeira vertente da crítica feminista, inaugurada por Kate Millet com seu Sexual Politics em 1970, que se voltava para o exame minucioso das relações de gênero, buscando analisar as representações de personagens femininas em textos masculinos, assim como, os tipos de temas associados à mulher e de que forma o discurso implícito nesses textos, servia como instrumento ideológico para a dominação social e cultural masculina.
Nas últimas décadas, no entanto, o estudo de gênero, vem apresentando novas facções críticas, que defendem a análise do texto literário a partir do seu contexto de produção, o que trouxe maior verossimilhança na leitura e análise dos textos de autoria feminina, uma vez que, a composição ficção/realidade desvela os construtos sociais que marcam tanto a visão que a mulher tem de si, quanto à forma que concebe o outro.
Sendo assim, a leitura do texto de autoria feminina, sob as bases conceituais da Crítica feminista, tem servido como fonte de investigação sócio-política, cultural e literária, capaz de, segundo ZOLIN (2005, p. 182):

 “[...] num processo de desnudamento que visa despertar o senso crítico e promover mudanças de mentalidades, ou, por outro lado, divulgar posturas críticas por parte dos (as) escritores (as) em relação às convenções sociais que, historicamente, têm aprisionado a mulher e tolhido seus movimentos”

Diante do exposto, elege-se para nortear este artigo, a perspectiva da crítica feminista contemporânea, sob o enfoque político-cultural, buscando enfatizar a cultura, relatar mudanças sociais, condições econômicas e transformações relacionadas ao equilíbrio de força entre os sexos, pois segundo Zolin (2005, p.191) se pretende “desnudar os fundamentos culturais das construções de gênero.”
Nessa perspectiva, o pensamento de Bourdieu (1998) também traz grandes contribuições, sobretudo pelo trabalho que realiza sobre a construção social dos corpos, mostrando de que forma o comportamento prático de homens e mulheres está condicionado socialmente, por valores simbólicos concebidos pela sociedade patriarcal.
No estudo das relações de gênero, adota-se o posicionamento de Lauretis e Stoller (1994; 1990) por entenderem o gênero como uma construção social, uma representação da realidade material.
Na narrativa de Zoé Valdés, nota-se certo inconformismo, um forte desejo de desconstruir paradigmas na dicotomia homem/mulher, propõe igualdade de sentimentos e comportamentos, superação dos bornes sociais. Por isso, a escrita de Zoé não está ao lado ou à margem, mas sobre o texto masculino, utilizando-o como suporte para a sua produção, que ora reflete em si, ora no outro. Diante disso, vale citar Zilda de Oliveira Freitas* ao dizer que:
“Distanciando-se da identidade pré-fabricada no espelho do homem é que melhor a mulher se vê. Para além do mero mimetismo masculino.”

A Eternidade do instante: NASCER

Em A Eternidade do instante, Zoé Valdés constrói um verdadeiro mosaico de representação do feminino, no qual os papéis sociais exercidos por cada personagem, a mãe, a filha, a esposa e a amante, delimitam o universo de atuação da mulher, assim como, reproduzem o imaginário androcêntrico – no caso, desta obra, em relação à família e o Estado. 
Vale ressaltar, ainda, que tais representações também são construídas a partir das personagens masculinas, que por vezes invertem seus papéis, alterando a lógica da norma patriarcal.
Na narração, as relações de gênero apresentam homens provedores do lar, sábios, corajosos, mas inexpressivos e a mulheres fortes, sábias, emancipadas sexualmente, no entanto presas às tradições culturais.
A personagem Li Ying, uma das mais intrigantes, é apresentada logo no início da obra, Jovem ator e cantor de ópera, que desde seus cinco anos fora educado de forma rígida, por seus pais e monges, desenvolvendo habilidades de canto e dança da poesia antiga. No teatro em que encenava interpreta uma imperatriz, “uma mulher desejosa de ser pervertida” [...] e a dan na Ópera da Serpente Branca, “mulher, cujo nome era Serpente Branca, um ser feminino imortal que se transforma em garota [...]”. (VALDÉS. A Eternidade do instante, 2012, p.15).
 Neste trecho, percebe-se que a autora envereda pela ficção da ficção, para representar, através da personagem masculina Li Ying, o gênero feminino. Essa estratégia narrativa pode ser entendida como uma metáfora da diferença entre gênero e sexo. Li Ying é homem, no entanto transforma-se completamente ao interpretar seus papéis, adquirindo o gênero feminino. O homem toma corpo e voz de mulher, “Ah, seu corpo sofria noite após noite uma transformação extraordinária, cada vez mais perfeita, já não era mais ele. Não era mais Li Ying.” (Ibid p.18)
Fora dos palcos Li Ying é um jovem muito respeitado e venerado. Na cidade de Burgo todos o admiravam e diziam: “Tal prodígio não poderia vir de outro lugar que não fosse diretamente de uma energia superior [...] enviada pelo Iluminado, o doce e venerado Buda” (Ibid.p.17).
A narrativa vai delineando o conceito de gênero, baseado numa construção sócio-cultural. Na ópera, Li Ying, apesar do traje, da voz e dos gestos, não deixa de ser homem. No entanto, durante sua atuação incorpora toda a sensibilidade, sensualidade e feminilidade, mesmo que estereotipada, para representar o gênero feminino. Essa construção, no entanto, só é possível, porque as instituições sócio-culturais inerentes desse contexto, assim a permitem.
Em outro trecho, a autora, numa narração sinestésica, descreve as sensações de Li Ying ao se apaixonar pela primeira vez.
                                                                        
 “[...] totalmente desconcentrado se seu papel de grande dama caprichosa se inquietou diante dos efeitos que provocava em seu íntimo a contemplação da beldade que passar pela frente do teatro, Cócegas leves e duráveis o invadiram entre o ventre e a virilha; aquilo se chamava desassossego, comichão.” (Ibid, p.19).


Ao empregar termos como ventre, comichão, a autora transgride aos padrões sensoriais masculinos, que numa sociedade patriarcal, geralmente são representados como símbolos de força e insensibilidade.
O narrador passa então a descrever Mei. Mulher por quem Li Ying se apaixona.
 “O que mais gostava na vida era olhar para cima e contemplar o céu” (...) Preferia o inverno ao verão (...) acabara de completar dezessete anos e ocupava a maior parte do tempo com leitura (...) Lia deste os três anos, passou a escrever a partir dos três anos e meio. Seu pai a ensinara, instruindo-a com comentários sobre Os poemas canônicos ou o Livro de poemas, a mais antiga antologia chinesa (...). Órfã de mãe, já que esta falecera no parto (...)  Mei nunca experimentara a dor e o padecimento de sua perda (...) seu pai suprira a ausência: o escrivão mimava demais a filha única.” (Ibid p.22)

Nesta descrição, a autora traça o perfil de Mei, caracterizando-a como uma mulher jovem, serena, introspectiva e intelectual. Em outros trechos da narração, a autora continua dando destaque a inteligência de Mei, como no trecho em que Sr. Xuang fala sobre a filha “Se ela tivesse nascido homem não seria tão inteligente” [...] “Mas, se tivesse nascido homem, eu teria vivido tranqüilo. Minha filha jamais poderá ser respeitada como profeta...” (Ibid p.23).
Vale ressaltar, que a caracterização da personagem, enquanto mulher intelectual, não condiz com a realidade da mulher chinesa do início do século XX, que em sua grande maioria, segundo BRAGA (1991)  nem se quer era alfabetizada. Zoé, portanto, elege a exceção para desconstruir a imagem da maioria das mulheres chinesas, perpetuada pela submissão, imposta por uma sociedade historicamente marcada pelo patriarcalismo.
Durante a narração nota-se que a intelectualidade vai surgindo como indicador de status cultural e social, que estando ligado ao labor artístico,acrescenta às personagens Li e Mei certa superioridade cultural, colocando-os no mesmo patamar. A função social exercida por cada personagem na rede de simbologias da cultura chinesa molda as relações de gênero e de poder.
Li e Mei casam-se e durante o ato sexual a jovem mostra-se emancipada, domina a relação e se deixa dominar. Seguindo um dos desenhos eróticos de “Ritual sensual da primavera”, retirado de um livro que roubara de seu pai, Mei surpreende Li “Ninguém nunca o divertira tanto quanto Mei e, da mesma forma, ninguém lhe ensinara tanto”.  (Ibid p.36).
Segundo FOUCALT (1978, p.59) na cultura oriental o sexo é uma “busca por métodos por meio dos quais se poderá intensificar o prazer sexual “ - arte erótica.
Arte esta que não privilegia nenhuma das partes, o sexo aflora como um canto, uma dança, no ritmo dos corpos. Mei chega ao orgasmo primeiro “como uma gata no cio, com os olhos revirados, gemeu num orgasmo duradouro. Li Ying, por sua vez“ conseguiu se segurar e renunciar a alcançar o auge da ejaculação; reunida toda ternura do universo, depositou um beijo nos lábios avermelhados de sua esposa. ”(Ibid p.39)
A relação sexual não se mostra como uma relação de dominação social, a autora contraria a norma patriarcal, na qual como teoriza BOURDIEU (1998, p.31) “está construída através do princípio de divisão fundamental entre o masculino, ativo, e o feminino passivo.”
Nessa relação homem não é dominador e nem dominado. O sexo assim, como qualquer outra arte, deve ser apreciado, cultuado, pois faz parte da tradição cultural. A mulher nesse momento tem voz e autoridade sobre seu corpo.
Após o coito, Li e Mei especulam sobre o sexo da criança que acabaram de conceber – “Será menino – previu ela, orgulhosa”. O marido complacente e feliz com a excitante premonição completa “Será um menino forte, valente, aventureiro – Afirmou Li Ying”. (Ibid p.41)
Percebe-se que a ideologia patriarcal está diretamente relacionada com a tradição cultural e isso logo vem à tona. As personagens são conscientes de seus papéis sociais, enquanto mantenedores e reprodutores da tradição. O primogênito representa na cultura chinesa, o herdeiro maior, dando à família prestígio social.
A autora vai construindo suas personagens a partir da representação cultural e social da mulher, por meio de um conjunto de representações míticas e arquetípicas, as quais confinam o espaço do feminino à dimensão da imagem em seus múltiplos significados. Da mesma forma, com que situa as personagens numa sociedade androcêntrica, na qual os papéis sociais são culturalmente pré-definidos.
Dessa forma, Mei Ying, apesar de ser uma mulher inteligente, habilidosa artisticamente, pois além de copiladora era artista plástica e artesã, mostra-se presa a condicionamentos sociais e culturais, nos quais foi submetida pela ideologia paterna.
No quinto capítulo intitulado O canto do idealista, nasce o primogênito Mo Ying “ (...) Até aos sete anos foi o pequeno rei da casa, fazia rir a todos com seu caráter firme e decidido ou com suas frases atrevidas. “ (Ibid p.45)
Depois nasceua menina Xue Ying e com ela a decadência da família, pois foi no momento que o Sr. Ying  teve que vender o teatro.  Li Ying perde o emprego. Mei diante desses acontecimentos diz: " - Não desanime, Li Ying, você sempre será o melhor. Três gerações o recordarão por seu canto, porque é imortal.” ( Ibid p.48).
Nesse capítulo, a autora apresenta o comportamento de Mei, enquanto esposa e mãe, e como tal, esta personagem mostra-se devota do marido e protetora dos filhos, ao seja, age sob efeito da dominação simbólica masculina, na qual  os construtos sociais androcêntricos, naturalmente, a submetem.
O contexto histórico da ficção remete à crise econômica da China de 1910 e à gripe, doença que mata centenas de chineses, atingem diretamente a família de Li Ying. Venderam tudo que tinham, os pais de Mei e Li morrem, “ Meu pai e o dela – apontou para sua esposa – morreram por causa de tanta ignomínia, que gripe o quê! Adoeceram de tristeza, ao se verem convertidos em testemunhas da extinção de uma cultura...” ( Ibid p. 59)
O filho mais velho Mo Ying que havia sido mandado para o mosteiro, agora com doze anos, recolhi-se nas montanhas sob os ensinamentos do mestre Sr. Meng Ting, para iniciá-lo nos estudos de meditação e espiritualidade.
Tanto Li quanto Mei preocupam-se com a educação de Mo, no entanto, não esboçam a mesma preocupação com a educação das filhas Xue e Irma Cuba. Nessa construção, a escrita de Zoé desvela que a organização familiar chinesa, enquanto instituição social reproduz a dominação e superioridade masculina, conduzindo à mulher a uma inferioridade, que segundo BOURDIEU ( 1998, p.49) “o habitus de homens e mulheres está condicionado a perceber o mundo somente a partir das categorias da percepção que esta ordem simbólica imputa”
Ao retornar para casa Mo Ying, agora com 16 anos. Havia se tornado médico, sábio, poeta e profeta, mas para Li Ying “ Nada disso vale mais “ (p.60). Em tempos de crise, a arte, a espiritualidade e a cultura não tinham nenhum valor financeiro e nem cultural, a China fora invadida por outras culturas. Diante disso, Li Ying toma a decisão de partir:
“ – Só espero que sua mãe dê a luz e que a criança complete alguns meses. Quero partir para longe, para Cuba, encontrar-me com meu primo Weng Bu Tah. Lá trabalharei e enviarei dinheiro, aqui não me resta nada útil para fazer a não ser a autodestruição. “ (Ibid p. 59)


A autora mostra o inconformismo de Li Ying diante de sua realidade financeira. Pois, como provedor do lar, não aceita sua condição. Revolta-se diante dos novos rumos de seu país, rechaçando o pensamento e à cultura estrangeira.
Mei não questiona e nem contraria a decisão do marido. E após o nascimento de Irma Cuba, Li Ying parte para Cuba, onde o primo Weng Bu Tah ocupava liderança política.
O comportamento da mulher oriental apresentado pela autora, expõe a  submissão desta, ao sistema tradicional vigente, sob o comando masculino. Esta submissão é construída com base em aspectos culturais, sociais, econômicos e ideológicos.
Os papéis sociais exercidos por Mei e Li revelam a organização social da época, homens provedores do lar e mulheres dedicadas às funções domésticas e maternas.
Com a partida de Li Ying as mulheres da família Mei, Xue e Irma Cuba Ying apresentam sentimentos que mesclam esperança, revolta, saudade, dor e desprezo. Cada uma elege uma forma de se abstrair daquela realidade. Mei Ying quase não fala, dedica seus dias ao artesanato, finge uma alegria artificial para não contaminar seus filhos com sua tristeza “(...) ela finge ser feliz para não nos deixar infelizes” (p. 72). Xue Ying a filha do meio, que fora descrita por Li como “uma adolescente cheia de virtudes, mas às vezes é imprevisível em suas ambições. A espontaneidade domina a maioria de seus atos, não será bom para ela”. (Ibid p. 60).
Xue não se compadece do mesmo sentimento da mãe e do irmão em relação a partida do pai, ao contrário condena sua atitude.
“Papai se envergonhou de não ter as condições necessárias para um bom sustento de nosso lar, teve pena e vergonha de não conseguir manter nossa família. Em vez de trabalhar junto de mamãe e seus filhos, preferiu alegar que partiria para longe em busca de fortuna. Talvez você tenha acreditado, eu só considero sua decisão um pretexto vulgar, escolheu a vida fácil. Ele se safou do compromisso familiar e deixou mamãe com todo peso em cima das costas.” (Ibid p.71)

Mo Ying em relação ao comportamento de Xue, defende o pai e condena veemente a atitude da irmã“_ Você é mais que injusta! É impiedosa! Como pode guardar tanto rancor de nosso pai? (...) É um grande artista e todos os artistas sofrem até o final de suas vidas”. (Ibid p.71)
 Mas a garota não se intimida e contesta: “_E mamãe não é? Mamãe também é uma grande artista. Mas, claro, a quem importa esse detalhe, não? Ela é mulher. E ninguém se importa com as mulheres” (Ibid p.72)
Nessa passagem, é notório o desejo da autora em apontar a subordinação da mulher em relação ao homem, na sociedade chinesa da época. A reação das personagens mostra a existência de uma hierarquia de valores e condutas, impostas por tal sociedade. A transgressão e o incorformismo de Xue, não alteram em nada o destino dela ou de sua família. Ela não se caracteriza como uma mulher-sujeito, que segundo ZOLIN (2005, p.183) “é marcada pela insubordinação aos referidos paradigmas, por seu poder de decisão, dominação e imposição”.
Xue, portanto é uma mulher-objeto, pois mesmo consciente da dominação patriarcal, continua submissa, resignada. Sua voz não ecoa. A mesma em sinal de revolta ou de desprezo pela atitude do pai ou pela condição da mãe resolve tapar os olhos e assim, se confinar na mais completa escuridão.
Irma Cuba, filha caçula, era ainda muito criança para expressar qualquer tipo de posicionamento em relação à emigração do pai, mas sofria com sua ausência “ _ Ai, mamãe quero ver o papai, quero conhecer meu papai! – a menina berrava num ataque de choro.” ( Ibid p.79). Como reação passa a sentir fortes dores nos ouvidos, desejava ficar surda, pois todos os barulhos a incomodavam, menos o canto do pai. Fica surda.
A reação de cada uma das personagens remete aos três macacos sábios da cultura chinesa, Mizaru, que tapa os ouvidos para não ouvir o mal, Kikazaru, para não ver o mal e Iwazaru para não falar o mal. Eles representam os segredos da sabedoria chinesa.
Novamente constata-se o forte apego às questões culturais na construção do comportamento das personagens. Que mesmo conscientes de sua realidade, não transgridem as normas sociais estabelecidas, ao contrário se abstraem para não perturbar a tal ordem. Diante dessas inferências destaca-se o pensamento de STOLLER (1993), ao frisar que: “
“Masculinidade e feminilidade referem-se à identidade de gênero e comportam aspectos biológicos e psicológicos. Sem dúvida, a influência da cultura e das ideologias que a permeiam devem ser levadas em conta”.

Diante dos acontecimentos Mo Ying resolve ir à procura do pai e deixa o velho mestre Meng Tingcomo tutor da mãe e das irmãs.


A Eternidade do instante - VIVER

Na segunda parte do romance, intitulada Viver , Mo Ying ao chegar no México passa a se chamar Maximiliano Megía e depois de longos anos, vivendo em Cuba, já um velho centenário, dedica horas de seus dias escrevendo, em seu caderno de lembranças,  aventuras e relações amorosas que teve ao partir da China em busca do pai Li Ying.
A narração segue, entrecortada, como se obedecesse as falhas da memória do velho chinês. Nesse mosaico de lembranças, Mo Ying entra em contato com mulheres de diferentes culturas. No entanto, analisam-se neste artigo, as de maior representatividade, no que concerne ao estudo das relações de gênero.
Nessa segunda parte do romance, a autora constrói uma narrativa memorialística, na qual Mo Ying é o narrador-personagem. Através do registro das memórias de Mo Ying, a autora relata as relações amorosas que este personagem vive antes de casar com Bárbara Buttler, com quem teve cinco filhos.
A primeira relação amorosa acontece numa pequena localidade de Hexi, em Yunán, com a adolescente Sueño Azul. Uma garota subversiva, para os padrões sociais da época, decidida e bem resolvida em relação ao amor e ao sexo.
A inverossimilhança dessa personagem, em relação à identidade feminina da época é notória. A narração oscila entre realidade e sonho. Sueño azul é a representação da mulher-sujeito, ela aproxima-se de Mo e direciona a conversa para uma intimidade que até então não existia. “_ Como você gosta do corpo feminino? Exuberante ou magro? Mo Ying não soube o que responder a semelhante pergunta, muito ousada para uma adolescente”.( Ibid p.136)
A relação de Mo e Sueño Azul é marcada pela autora por elementos como a estranheza, o surpreendente e o inesperado, ou seja, pelo exotismo tipicamente oriental.
Sueño Azul transgride ao condicionamento patriarcal, não deseja um homem para casar-se, sabe que sua relação com Mo será puramente sexual. Faz-se mulher-sujeito. “- Sabe Mo Ying? Minha irmã vai se casar amanhã, apaixonada por seu noivo, claro. É o correto, acho que sim. Eu não me casarei nuna, prefiro ser concubina ou cortesã” ( Ibid p.137)
Mo Ying diante do comportamento de Sueño Azul mostra-se surpreso, confuso e intimidado. A jovem o dominou completamente “Sueño Azul avançou para ele [...] Ela levantou a veste do homem [...] Agarrou o pênis e o deslizou entre as coxas [...] fizeram amor toda a noite. (Ibid p.138)
Mo Ying continua sua jornada e depois de fugir de uma caravana de nômades violentos, é capturado por um grupo de caçadores e transformado em escravo.
Ao chegar a Campeche é comprado pelo Sr. Dubosc, a pedido de sua filha Eva “ – Aquele – apontou para Mo Ying _, o terceiro da esquerda para a direita, comprei-o pai. Preciso de um servente. (p.242). Assim torna-se escravo e depois amante de Eva Dubosc,  mulher que o batizou com o nome de Maximiliano Megía. “ Desde a noite em que chegaram à fazenda, a curiosa francesinha se fixou em Mo [...] Eva Dubosc se enamorou dele [...] se apaixonou até os ossos por Maximiliano e se atreveu a confessar isso” (Ibid p.184)
Nessa relação, vale destacar que, os valores patriarcais vigentes se sobrepõem ao sentimento de Eva, que mesmo apaixonada por Maximiliano, não reage contra o pai, não se corrompe pelo sentimentalismo, não contesta seu destino, apenas silencia. Aceita a imposição do pai, que “[...] não podia consentir; sua filha predileta com um escravo!” ( Ibid p.184)
Diante dos comportamentos das personagens vale citar LAURETIS (1994, P. 215) ao dizer que:
“A categorização masculino/feminino, excludente, manipula as relações sociais, que não refletem, mas constroem a realidade. “ Os homens e as mulheres não só se posicionam diferentemente nessas relações, mas – e esse é um ponto importante – as mulheres são diferentemente afetadas nos diferentes conjuntos”

A última relação amorosa de Maximiliano acontece com Bárbara Buthler, “uma irlandesa emigrada com seus pais açougueiros e irmãs solteiras” (Ibid p.176). Nessa passagem à descrição é mais minuciosa, a relação vai sendo construída, à medida que os dias passam e a intimidade entre as personagens evolui.
“Na primeira vez que falou com Bárbara, ela estava enfiada nos lençóis, [...] padecia de uma febre muito alta [...]. “Perguntou como se sentia, ela respondeu que muito mal e aí terminou o diálogo; isso foi simplesmente tudo” (p. 208)
Durante dias não se afastou de seu lado,[...] o mal estar cedeu, e paciente e médico iniciaram uma respeitosa relação; começaram jogando cartas, depois ele ensinou algumas regras do mahjong, ou mayón, e ela rolava de ir, divertindo-se muito na companhia dele.
Depois de curar a paciente, Maximiliano Megía voltou a seus costumes habituais, enviou uma carta recomendando repouso e tentou não pensar de modo obsessivo nela.” ( Ibid p.208)


Enquanto para Maximiliano a relação se fixara em médico/paciente, para Bárbara era o começo de uma irresistível paixão.“ Mas, as cócegas e a coceira entre o umbigo e o púbis atormentavam Bárbara Buttler, derretida diante da imagem do chinês.” (Ibid p.208)
A autora relata as sensações de Bárbara, igualmente como fizera ao descrever as de Li Ying, pai de Mo Yong, ao se sentir excitado pela primeira vez. Nessa co-relação de sensações, Zoé propõe igualdade entre os sexos, homem/mulher reagem da mesma forma quando esboçam desejo carnal. Diante disso,  a mulher-sujeito surge com toda força na narrativa.
 “ – Que foi? Se apaixonou por esse chinês? Sua irmã Nina não podia acreditar.
_ Esse chinês, como você o chama, é advogado, médico e gosto muito dele.
_ Como pode gostar de um chinês? Além disso, dizem que os chinese trazem azar. Você nunca ouviu esse ditado de que “fulano tem um chinês por trás”, de alguém que está muito chateado? – insistiu Nina.
_ Gosto de Maximiliano, vou casar com ele e ponto – espetou Bárbara.
_ Casar com um chinês? Será para que papai o mate. Fará de papai um desgraçado.”( Ibid p.209)

O comportamento de Bárbara é marcado pela insubordinação, inconformismo e pelo poder de decisão que esta tem sobre seu destino. A mulher-sujeito é construída por Zoé de forma intensa, pois Bárbara não só foge do padrão estabelecido pela sociedade patriarcal, como impõe seu desejo ao pai, conduzindo tanto sua vida, quanto a de Mo Ying, que inexpressivo, é dominado pelo desejo de Bárbara.
-“Ela quer casar o mais rápido possível. Estaria disposto?
 - Não tinha pensado nisso.
 - Gosta ou não gosta da minha filha?
- Sim, senhor, mas tenho responsabilidades econômicas com minha mãe, minhas irmãs; senhor poderá supor que para mim seria difícil assumir...
- Não me importa, é por isso que trabalha para mim, para ganhar dinheiro, e ganhará ainda mais. A única coisa que quero é paz no meu lar. ( Ibid p. 210)

Bárbara transgride a ordem social e a autoridade do pai, enquanto representante da sociedade patriarcal, na instituição família. Assim como, contraria os condicionamentos sociais, elegendo a profissão como fator preponderante de realização pessoal, abandonando o esposo e os filhos. A autora propõe o desnudamento dos estereótipos construídos sobre a mulher mãe e esposa.
“ Apesar disso, sua paixão durou o mesmo que um merengue na porta de um colégio: alguns meses depois que o quinto filho viera ao mundo. Bárbara topou com uma revistas de famosos em que vários testemunhos confirmavam a moda das ruivas e, sem pensar duas vezes, determinou que precisava se realizar como pessoa, triunfar como artista; então foi picada pelo bichinho da artista, mudou da água para o vinho [...]” (Ibid p.213)


A reação de Maximiliano Megía diante da partida de Bárbara também revela uma desconstrução da representação do masculino no sistema de gênero que imputa sobre este, estereótipos de poder e dominação.
Durante a narração não se verifica nenhum comentário negativo em relação à partida de Bárbara, nem dos filhos, nem do próprio Maximiliano, que ao contrário e como forma de revolta, se entrega ao mais completo silêncio, assim como fizera sua mãe, quando seu pai, Li Ying partira.
A inexpressividade, a serenidade, o fracasso, subordinação e a falta de voz fazem de Maximiliano Megía um homem transgressor das normas patriarcais, que impõem ao comportamento masculino uma conduta de dominação em relação ao feminino.
A autora retira de Maximiliano Megía quase todos os atributos sociais que são associados a ele, enquanto homem, concedendo somente a virilidade, atributo este representado através da descrição memorialística deste.
Sendo assim, verifica-se que, nas relações sexuais registradas, através das lembranças de Maximiliano, as personagens femininas apresentam autonomia e posse sobre seu corpo e sobre seus desejos. Não há registro de imposições, censuras ou proibições entre Mo Ying e suas amantes.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A mulher,  no decorrer da história, cultivou o silêncio e a submissão ao sistema tradicional vigente, sob o comando masculino. As justificativas para tal comportamento são variadas e as análises partem das diversas influências presentes nessa relação social tão complexa entre homem e mulher, construída com base em aspectos culturais, comportamentais, econômicos ou ideológicos, entre outros.
Em A Eternidade do instante, Zoé Valdés lança seu olhar sobre a mulher oriental, marcada por sua subordinação e obediência ao pensamento androcêntrico. Uma mulher que, limitada pela cultura chinesa, é conduzida a reproduzir e perpetuar a dominação masculina, entendendo-a como um processo natural e inquestionável.
A autora, então adentra no exótico, no misticismo e nas tradições culturais chinesas, concebendo-as como construções simbólicas, capazes de relevar as organizações sociais, no que concerne às representações do masculino e do feminino.
Vale destacar, que além das questões de gênero, verificou-se também que na escrita dessa cubana, há um forte engajamento sócio-político. No entanto, esse aspecto, não é o foco central da obra. Os fatores externos, relacionados ao contexto político da China, são geradores de conflito, capazes de alterar o enredo da narrativa, como foi o caso da emigração da personagem de Li Ying. Contudo, às vezes, tais fatores apenas surgem como pano de fundo, para situar a trama politicamente e historicamente.
Logo na primeira parte da obra – NASCER, o romance construído através de uma grande força poética, notoriamente, focaliza na relação homem/mulher, na qual a autora propõe reflexões acerca de seus papéis sociais, assim como, preconiza sobre a influência da cultura na formação do gênero.
A relação de gênero, nesse sentido, é o resultado de um processo de construção que se inicia nas bases das instituições sociais e que, uma vez concebidos, passam a representar modelos, hábitos, costumes, que em sua grande maioria, são resguardados pelo poder simbólico, servindo como elemento de dominação de um gênero sobre outro.
Na segunda parte da obra – VIVER, Zoé elege o discurso memorialístico, no qual cria uma escrita de registro, aventuras, lugares, datas, sonhos e relações amorosas, que a permite construir o narrador-personagem Maximiliano Megía de dentro para fora, pois é através das recordações desse personagem-narrador, que Zoé encontra liberdade para representar o outro e sua relação com o feminino.
A autora, portanto enaltece o gênero como uma construção cultural, assim como define Scott (1990, p. 5): “toda e qualquer construção social, simbólica, culturalmente relativa, da masculinidade e da feminilidade. Ele define-se em oposição ao sexo, que se refere à identidade biológica dos indivíduos.” Sendo assim, constrói as relações de gênero, sobretudo na primeira parte da obra – NASCER, a partir de estereótipos e símbolos culturais enraizados nas tradições e que se reproduzem um imaginário androcêntrico perpetuado através dos construtos sociais.

 REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. A Dominação Masculina. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. De original La Domination Masculine, 1998

BRAGA, Maria Ondina : A China Fica ao Lado. Instituto Cultural de Macau, 1991

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade. Rio de Janeiro: Graal, 1985, v.1,2,3

LAURETIS, Teresa de. A Tecnologia do gênero. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. (org.) Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Rio de janeiro: Rocco, 1994. P.206 – 237.

SAMARA, Eni de Mesquita. O discurso e a construção da identidade de gênero na América Latina. In: SAMARA, Eni de Mesquita; SOIHET, Rachel; MATOS, Maria Izilda S. De (Orgs.). Gênero em debate: trajetória e perspectivas na historiografia contemporânea. São Paulo: EDUC, 1997.


SCHMIDT, Rita Terezinha. Repensando a cultura, a literatura e o espaço da autoria feminina. In: NAVARRO, Márcia Hoppe (Org.). Rompendo o silêncio: gênero e literatura na América Latina. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1995.

SCHMIDT, Simone Pereira. Gênero e história no romance português; novos sujeitos na cena contemporânea. Porto Alegre: Edipucrs, 2000.


SCOTT, Joan. Teoria Literária Feminista.Trad. Amaia Barcéna. Madrid: Cátedra, 1998

____________. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. In: Educação e Realidade. Porto Alegre, n. 16, julho/dezembro, 1990, p. 7-14.

STOLLER, Robert. Masculinidade e feminilidade (apresentações de gênero). Porto Alegre: Artmed, 1993.

VALDÉS, Zoé. A Eternidade do instante. Trad. Marcelo Barbão. São Paulo: Benvirá, 2012

ZOLIN,Lúcia Osana. Crítica Feminista. In: BONNICI, Thomas; ZOLIN, Lúcia Osana (Orgs). Teoria Literária: Abordagens históricas e tendências contemporâneas. .Maringá: Eduem, 2005


Visitada em: 25/12/2012

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