terça-feira, 10 de setembro de 2013

A extensão como processo ensino-aprendizagem, não como mera extensão

Se perguntarem qual é o trinômio que compõe o significado da Universidade, muitos vão responder: Ensino, Pesquisa e Extensão. Essa divisão ordinal e sequenciada não foi construída aleatoriamente, revela antes de tudo como está estruturada a Universidade, segmentando o ensinar, o pesquisar e a aplicação destes dois elementos, a extensão comunitária.

Essa concepção serviu para um sentido de ciência e de Universidade, mas já não serve mais. A crise das metalinguagens, da concepção clássica de política, de um modelo de estado e a reverberação disso tudo naquela que era por excelência o lugar do saber, a academia, denotam a crise de um humanismo e a forma de concebermos o conhecimento. 

A Universidade se transformou no lugar de formação e preparação de seus recursos humanos para o mercado, pode ser isso, mas não apenas, se apropriou de uma lógica competitiva e sectária de enxergar o mundo, deixou de lado propostas curriculares integralizadoras e holísticas em detrimento da lógica do capital segregadora de tudo que aparentemente não acumula bônus, qualquer que seja, é o apanágio de uma ciência anti-humana, elitista, deformadora das personalidades, um lugar de vaidades, de egos inflamados, de conflitos particularistas. 

A pesquisa por seu turno, entendido como um elemento distante do ensino, se tornou algo caro de ser feito, cujos financiamentos estão cada vez mais ligados a professores vinculados a programas de pós-graduação, por um lado muito bom, impulsa a pós-graduação, o país necessita, por outro, as condições de trabalho existentes no Brasil impedem que na prática os dados de qualificação docente, que se aproximam cada vez mais de países como E.U.A e os europeus, mostram exatamente o contrário, não é possível preparar boas aulas, ter leitura qualificada com três disciplinas, dezenas de orientandos, reuniões mil, estâncias burocráticas e ao mesmo ministrar boas aulas e pesquisar. Ai é que a extensão fica extremamente prejudicada.

Obrigados a ter que fazer currículos, senão não conseguem financiamentos, os professores priorizam publicar em revistas qualificadas, participar de congressos, do que pensar na relação daquilo que estes fazem na Universidade com a comunidade. Para que? Pouco pontua no currículo lattes, basta olharmos os critérios de pontuação em concursos públicos, em processos de concessão de bolsas de pesquisa ou iniciação cientifica, em projetos de financiamento de pesquisa bancados por institutos de fomento para checarmos tal informação. Qual o peso da extensão? Quase nada. Resultado: a comunidade no entorno da Universidade literalmente é alijada dos processos internos.

Pensar a relação ensino-pesquisa e extensão é refletir sobre o processo pedagógico integralizador das etapas do conhecimento e como esta pode e dever ser revestida para o segmento que financia e precisa do ensino e da pesquisa, exatamente a sociedade. Da forma como a Universidade está alicerçada é importante para a comunidade cientifica que usufrui dos resultados e dos meandros do saber academicista, não para o restante.

Outro dado: olhemos os recursos destinados para a pesquisa e extensão para denotarmos outra segregação. Porque não há paridade entre esses três segmentos? Porque existe de fato uma hierarquia entre eles, quando deveria se pensar numa comutação, total integração e não separação. A comunidade deve estar inserida na Universidade, mesmo não aprovada no vestibular, participar do dia-a-dia dela, ser beneficiária dos seus serviços, aprender e ensinar a partir de suas práticas.

Vejamos outro dado. Porque os campus da UFMA e da UEMA aos fins de semana são fechados? Sem atração, sem vida? Porque não são pontos de cultura, não possuem atividades e não são símbolos de espaços de interação sócio-cultural? Porque são elitistas, segregadoras e não pensam nas comunidades. 

Aqui vai um alerta ao curso de História da UEMA, cujo prédio depois de 12 anos será finalmente entregue a sociedade maranhense, cujas obras custaram R$ 2.000.000,00, possui três pavimentos, 8 salas de aula, uma biblioteca, um auditório, salas de reunião, internet Wireless, em pleno centro histórico tombado pelo patrimônio mundial: se os professores não agregarem a comunidade ao redor do prédio, não ampliarem a concepção de conhecimento para além da sala de aula, será literalmente uma torre de marfim, um espaço ensimesmado, entrópico, portanto, longe da noção de saber que se apresenta neste inicio de milênio. 

Pensar a relação ensino-pesquisa-extensão é ter sensibilidade para entender que o conhecimento é um só, mas se apresenta de formas distintas.   
   

Um comentário:

  1. Mais uma vez conseguiu abrir-me a mente, minha proposta pedagogica está pautada exatamente nesses seus pensamentos: como a universidade pode se abrir para a comunidade oferecendo suas potencialidades?. aquí em Rosário o Polo está no coração do maior bairro da cidade - Ivar Saldanha -, bairro bastante excluído da sociedade, com índices de criminalidade alto, sem qualquer estrutura sanitária, precarios em atentimentos sociais, precisamos lançar essa proposta,valeu Henrique por esclarecer minhas idéias

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