quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Xadrez

Todas as manhãs, antes de banhar e arrumar minha filha Lucía para a escola, abro o computador para ela jogar um pouco. Quase sempre ela escolhe os mesmos jogos. Hoje, escolheu um novo: xadrez.

Pediu-me que ensinasse as regras, como movimentar as peças, como brincar. De forma um pouco tímida, disse não saber xadrez, embora sempre tenha admirado este jogo. 

Lembrei-me da minha adolescência quando todo nerd, estudioso ou metido a sabichão, se agrupava entre os que sabiam xadrez. Eu sempre joguei damas. 

Damas é um jogo de pedras lineares, retilíneas, exceção à dama que pode fazer movimentos que as outras  não fazem. Xadrez não, os movimentos são oblíquos e para mim de difícil entendimento, quiçá para uma criança de 4 anos e 9 meses. 

O Jogo de Xadrez nasceu na Idade Média para divertir os reis, no fundo, trata-se de uma estratégia de guerra, nasceu disso, por isso bispos, cavalos, peões, rainhas, reis. É difícil para uma criança entender as hierarquias sociais medievais e a disposição de como podem se mover no tabuleiro. 

No xadrez, como na vida, as escolhas das jogadas ou das decisões que se tomam dependem de conhecimento, estratégia, intrepidez e até de ignorância. É preciso arriscar para ganhar, é preciso continuar se movimentando para darmos vez às outras peças que querem se mexer. Só ganha quem se movimenta, quem fica parado vê o adversário avançar com seus peões, cavalos, bispos tomando nosso terreno. 

Já há algum tempo, meu amigo Felipe de Holanda me ensinou a jogar Gamão, o mais antigo do mundo. A lógica é a mesma: conquistar território, sem recuar. Os jogos são uma metáfora da vida. Neles, como na vida, ninguém quer perder. 

Dizer a minha filha que não sabia e nunca aprendi jogar xadrez foi assumir para mim mesmo que minha linha de raciocínio, minha inteligência, são mais emocionais que lógicas, logo, nunca fui na vida um bom jogador, sempre agi bem mais por emoção. 

Ainda assim, ela insistiu em jogar sozinha, quer dizer, tinha como adversário o computador. À medida que ela avançava as pedras, o sistema operacional, frio, calculista, metódico, infalível, insensível, subtraía as dela, sem se dar conta que tinha como adversária uma criança de apenas 4 anos e pouco, que não sabia jogar e que não estava preocupada em vencer, apenas em brincar. 

Essa lógica minha filha Lucía vai aprender com o tempo. Não vai poder brincar sempre, vai ter que saber se defender e atacar, afinal, a vida é como um tabuleiro de xadrez. É preciso saber se movimentar.  

Mas uma lição ela deixou para o computador ao findar o jogo exclamando: – “Papai, por que o computador avança e leva minhas pedras? Não tem graça, eu não tenho vontade de acabar com as peças dele, só quero brincar”.  

Eu respondi: – “Eh, filha, azar no jogo, sorte em todo o resto. Eu também não sei jogar xadrez”.    









7 comentários:

  1. Ah!Agora estou viciada em ver todos os dias novidades no seu blog e já estou divulgando. Qd tiver viajando lembre de ter um tempo pra ele ;-). Adorei essa da Lúcia quanto ao xadrez ;-) As crianças com sua inocência, nos ensinam muitooo. até mais

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    1. kkkk. que bom que meu blog é viciante. fico feliz, extremamente feliz. vou tentar durante a viagem me dedicar a ele, vai ser dificil, afinal, em Portugal vou pesquisar e só terei tempo a noite e na Itália terei um ciclo de conferências nas universidade de Florença, Genova e Milão, ou seja, vai ser tudo muito corrido. Por outro lado, terei muita historia para contar. Divulgue o blog sim

      abraços e obrigado

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    2. UFAAAAAAAAAAA !!!Muita coisa pra fazer na viagem mesmo.Se não der entendemos professor.Mas, a volta promete muita coisa boa.Sucesso!!! Vc merece td d bom nessa vida. Vc conquistou.

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    3. não sei se mereço, mas te confesso que não desistirei nunca. não dá para desistir da vida, ela é maravilhosa. o que eu puder fazer por mim e pelos outros assim farei. só faz sentido viver se colocarmos nossos talentos a serviço do outro. obrigado por compartilhar isso comigo.


      não sei quem és, mas desde já te confesso que estamos ligados.

      abraços fraternais do Henrique.

      Que Deus te abençoe

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    4. Poxa! Não sabes quem sou buaaaa. kkk .Uma dica, desde terça-feira que me deste num papelzinho teu blog, que estou sempre de olho nele ;-). Lembraste ? Creio q sim, é nosso segredo ;-)E quanto a merecimento, mereces sim.Pois além de competente, inteligente, tem um coração tão bom. Q Deus te proteja.

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    5. KKKK, agora sei quem é... vou manter em segredo sim. que bom que gostaste. tua divulgação vai ajudar muito. obrigado pelos elogios, não sei se sou tudo isso, mas vindo de ti é uma honra. também te admiro.

      abraços

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