Philippe Condorcet sempre foi gente de boa fé, sempre achou
que credibilidade era sinônimo de confiança, sobretudo quando se tratava dos
amigos. Ele vivia as estreitas com duas amizades muito dísticas: a de Augusto
Venturoso e a de Joelma.
Augusto Venturoso era gente de boa cepa, falastrão, boêmio,
poeta, fumante, apreciador de uma boa cerva, boa música, bebia sempre no mesmo
bar, às vezes sozinho, confabulando e desenhando um mundo a partir de seus
poemas-epitáfios. Não parava em emprego, gravata e pasta preta nunca fora seu
mote predileto. Apaixonava-se a cada mulher que adentrava no bar do
Joaquim, português mal humorado que tratava mal os clientes por saber
da qualidade musical do seu acervo e também por apostar que gente como Augusto
são fiéis aos seus amores, mesmo quando maltratados.
Joelma era funcionária pública, correta, disciplinada e
determinada, embora pusilânime. Sempre recorria aos conselhos de Condorcet para
tomar decisões. Era uma daquelas pessoas cuja palavra era certeira, não
vacilava, havia credibilidade no que dizia.
Certo dia, Condorcet foi tomado de surpresa com a sua
demissão. Justamente quando havia assinado um contrato de compra para o seu
apartamento, sinalizado com um percentual relativo de entrada, podendo até
voltar atrás, mas traria muito desconforto e complicações, inclusive
creditícias, afinal, fez um empréstimo no banco para tal entrada no imóvel.
Dali a dois meses teria que dar o sinal definitivo para a aquisição da chave.
Que fazer, pensou?!!! Como sinônimo de credibilidade recorreu à amiga Joelma,
contou o seu drama e perguntou se quando necessário, num prazo de dois meses,
poderia contar com um empréstimo de dinheiro e assim que voltasse a
trabalhar pagaria tudo, inclusive com juros. Joelma foi enfática: – Não se preocupe, quando precisar
conte comigo.
Dois meses se passaram... Quando Condorcet recorreu a
Joelma, foi tomado de surpresa com a notícia de que ela possivelmente teria que
emprestar um dinheiro a sua irmã que precisava comprar um carro, sem o qual não
poderia se sustentar, trabalhar e se manter, era instrumento de trabalho.
Condorcet se desesperou e se decepcionou com Joelma, afinal, quantas e quantas
vezes estendeu sua mão e a ajudou quanto mais precisava.
Triste e sorumbático foi ao bar do português malcriado para
afogar sua tristeza. Lá encontra-se com Augusto Venturoso que, vendo o amigo
triste e sorumbático, pede uma cerva bem gelada e música do MPB4 amigos é para essas coisas. A par do que se
passava, prometeu ajudar Condorcet. Desconfiado, Condorcet sorriu de soslaio,
afinal, seu amigo era bom para conversa, mas não tinha credibilidade em nada do
que falava, a julgar pelas incessantes mentiras que contava sobre a
relação com sua namorada, era um misantropo empedernido e sempre distorcia
sobre os fatos, sempre a seu favor, sempre de forma patética.
Dois dias depois, ao consultar sua conta bancária para
averiguar por quanto conseguiria viver até o final do mês, surpreendeu-se com
um valor existente um pouco acima do necessário para a compra da chave do
apartamento e começou a se indagar como aquele dinheiro havia parado ali e quem
era o responsável. Toda a gente passou pela cabeça dele. Alegre, ligou para
Venturoso para colocar a par das novidades. De volta ao bar, após contar o inédito,
seu amigo sorriu. Foi aí que Condorcet se deu conta de que tinha sido ele, mas
como? Dias antes quando beberam no bar, ao ir ao banheiro, Venturoso abriu a
carteira de dinheiro do amigo, sacou o cartão do banco com o número da conta e
fez o depósito. Mas não só. Comunicou a Condorcet que a partir de seus contatos
havia descolado um trampo, não era muita coisa, o suficiente para viver dignamente
até conseguir algo melhor. Condorcet chorou. Foi aí que se deu conta do seu
enorme estereótipo sobre as pessoas e sua visão sobre amizade.
De volta para casa, andando lentamente pensou: “às vezes é
melhor ter confiança nas horas certas em certas pessoas que do que crédito
naquilo que elas falam. Toda confiança é baseado em certo crédito, e todo
crédito pressupõe uma confiança, mas nem todo amigo é crível no que fala, mas é
melhor ser seguro no que faz”.
É... quem vê cara não vê coração.
ResponderExcluirBem escrito e faz pensar!
ResponderExcluirHenrique, indico o blog abaixo. Foi criado pelo Rodrigo Raposo, colega da UFMA, que atualmente se encontra no doutorado no RJ. Abração.
ResponderExcluirRubinho
http://desafiosdobrasil.blogspot.com/
obrigado rubem filho e rodrigo raposo. vou dar uma olhada nesse blog desafiosdobrasil.blogspot.com
ResponderExcluirabraços